Eu conheci uma cidadezinha que todo dia era dia, e a noite não separava os seus dias. O sol não tinha aurora e nem anoitecer, o tempo era separado pelo espaço e o espaço pelo tempo por sua vez. Todo mundo trabalhava de sol a sol e o almoço era um divisor de águas, quem antes não via, agora sabia, quem antes dormia, agora vivia, e todos viviam assim. Era tudo tão estranho, um tremendo desencanto, uns cobravam para falar, outros pagavam para escutar, pagavam para ouvir o que queriam, que eram justos, mas não sabiam, o rei era a vaidade e a lei era a liberdade, uma liberdade comprada, mas os pobres viviam outra realidade. Era assim que todos viviam, sem amanhã, porque não existia, trabalhavam durante o dia e a noite todos dormiam, a noite dos mortais, que não entrava nas contas do amanhã do outro dia, o amanhã do outro dia que muitos caíam em suas eternidades vazias. Uma eternidade sem chão, sem céu, sem estrelas, sem ar e sem mar, mas existia um caminho que os levariam a uma outra cidade, um caminho de luz, daquela mesma luz que desde o princípio foi criada, onde se dizia: haja luz e houve luz. Mas para entramos neste caminho teríamos que passar por uma porta estreita, que é a porta do entendimento, mas nesta cidadezinha era muito raro alguém ter o segredo da chave desta porta, e quando um tinha o segredo e abria a porta, vários passavam com ele, mas deparando com o outro lado da porta e vendo o caminho que tinha que passar, voltavam a cidadezinha e desistiam do caminho.
É um caminho de luz, mas também de luta, de muita determinação, de abstinências que poucos passam por ele. Se diz que esta cidade fica lá no alto e que carne e sangue não entram nela, e que só as almas puras entrarão, o espírito é quem nos levará a ela, se diz que ele combaterá contra a carne até aniquilá-la de dentro da consciência, parece até coisa de louco, mas disse que não sobrará nada da carne pelo caminho. Alguns até que tentam andar parte do caminho, mas meu amigo, tem consciência que chega a delirar pelos desejos carnais, e chega à loucura e trai o espírito de Deus e vai lá se satisfazer com a carne. Depois, mesmo querendo fingir que nada aconteceu, a coisa fica esquisita, pois só de ter a desconfiança dentro de um relacionamento já o mancha, imagina uma traição? Eu sempre disse que dentro do propósito de Deus não existe o perdão, mas existe o arrependimento, mas também sempre digo que para manter a fidelidade dentro de uma relação já é difícil, quanto mais difícil será depois de uma traição? Se a consciência ainda fosse transparente e segura, dava para ver o que ela pensa, mas se ela ainda continua insegura e turva, não dá para confiar, pior ainda é quando uma consciência não considera seus irmãos, quer mostrar fidelidade a Deus, mas não se importa com os irmãos, como andar assim no caminho?
Por O teu espírito diz