A tempestade não avisa quando vai cair, laços fracos vieram a ruir, como gotas podem ser tão pesadas? Gotejam em peito amargo, arrastam-se no assoalho, chuva serôdia, não vê hora, não vê dia. Um canto calado, mas que assombra quem o carrega, soa por todos os lados, e sua culpa lembra fel, o doce pecado com o tempo apodrece, pingam as máscaras e desgasta o véu. Quem não teme se banha, a chuva vira esperança, brinca, dança, vive em sorriso de criança. A tempestade não avisa quando vai cair, mas ela vem, derruba os fracos e o que vier a sucumbir, contudo acrisola, alimenta o solo, e traz arco-íris ao porvir. A dor do hoje passa, mas a do amanhã é eterna, por isso vá com o vendaval, e volte com as águas do céu, vá como semente e volte como flor, vá como noite e volte como dia, apenas vá como é e volte com a vida, não deixe os ponteiros correrem desenfreados, viva, seja leve e chuva serôdia.
Abismo em compreender luz, traz absinto, abrir as janelas para o calor da manhã abraça a casa vazia, está na hora de viver, e deixar a ilusão ficar à deriva, sozinha, aos poucos o sal vira doce, as águas refrescam e não queimam mais. O mundo não entende as leis da vida, por isso não vivem, caminham em uma estrada perdida, corrompida, passos dados em vão, rastros contam uma moral vazia, um conto triste borra o quadro, arte confusa não alegram os olhos, o céu espera sua presença, mas também não faz falta se cair em seu opróbrio. Deixe a chuva cair, a tempestade vir, é preciso ruir para poder reluzir.
Por Luiza Campos