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Cúmplice do alcatraz

Não são momentos no presente, mas uma história em looping do passado, de migalhas em migalhas segue em frente, um ciclo vicioso foi formado. Armazenando traumas na estante, feito biblioteca em ordem alfabética, como transformar tudo em instantes, se a vida que formaste é patética? Em sua sala, em sua cela o som que há é o tilintar das grades, batem-se os ferros, não é a bigorna? Talvez. A cumplicidade é interna, sigilosa, uma guerra perigosa. Ninguém pode ser fiador de ninguém, as tuas mãos é quem te incrimina. E quando o sabor do desejo é provado, não se sente sendo provado, mesmo que provocado, é a astúcia enlaçando um mais pobre coitado, e quando percebe que caiu no conto do vigário, é tarde, já está encoleirado. E a procrastinação passa ser o passa tempo, deixa para depois, deixa para outro tempo, e o pecado o carrega em coleira, sem eira nem beira. O dia que cair não terás chão, serás cúmplice de toda tua falsificação, guardou seu alcatraz no coração, como uma bela recordação, triste refrão. Cada um na sua cela, sendo cúmplice de si mesmo, quais cores pintou sua tela, se não foram em tons cinzentos? Detalhes encobertos pelo medo, desejos efêmeros solitários, há de ter encorajamento para em si e a si ser solidário, e então sair dos escombros desta prisão que te faz refém acorrentado em suas angústias, o mar da transformação, as ondas de suas lutas. Derrubar a dor, erguer a cabeça, escarnecer o rancor de si mesmo o qual lhe traz a própria sentença. A incapacitação é imaginária e prende àquele que se sente fraco, levantar é a esperança, seguir em frente é o desejo de quem busca viver.

Por Patrícia Campos