Parada em frente às águas, mergulhei no infinito outono, ondulavam sob o reflexo da luz, e mesmo que turvo por conta da sinuosidade, senti seu receio de se desfazer com as ondas para dar vida a um novo olhar, mas qual o motivo? Os cacos querem se reconstruir, mas depois de despedaçados ficam as manchas do passado, melhor é ser inteiro do que viver na sombra dos pecados. Estou caindo como geleiras, para conhecer a primavera, e quanto mais alto despenco, mais afago trará a queda, as nuvens me abraçam em um entoar de entendimento, eu sei que preciso ruir para dar vida, um novo tempo. Precisa ter coragem para florescer, descobrir as camadas que antes pareciam não fazer parte de você, carrega uma tez blasé, quando tudo estava despencando sem nem ao menos saber o porquê. Espelho oceano, que baila, que sangra, nas ondas que pranteiam procuro o nome Eterno, para cravar em meu imo, nas profundezas que me rodeiam, seu sopro e sua luz, seu canto vivo em meu peito, sou espelho e preciso de seu reflexo, para enfim tê-lo comigo.
Um mar desconhecido, rosas feridas, um conto inimigo, carmesim em espinhos, é preciso enfrentar o que antes não tinha coragem, traumas e lutas que não conhecia, o sol abraça e queima o que não tem vida, há de abrir-se para um canto que dantes nunca ouvira, acordes que dançam e cativam os olhos tristonhos, um solo muito mais caloroso do que o frio de seus outonos. O medo prende aqueles que choram sem esperança, se alimenta daqueles que quebraram suas alianças, um dia qualquer, perdido pelo mundo, um dia incomum, inconsequente, imundo, enquanto o tempo corre suas máscaras vão pingando, são lágrimas magoadas de rastros do engano, ventre cheio de vida, mas que aprendeu com a tristeza gerar a morte. Não sei se felizmente ou infelizmente, mas vivemos neste mundo, somos imensidões desconhecidas que vagam sem rumo, onde isso vai dar se não em um poço sem fundo? E volto mais uma vez, para beira de meu reflexo, onde encontrei um nó em minha garganta, e um tom um pouco complexo, há muito o que descobrir em mim, mas abracei a vida, sei que sua luz tudo lumia, e um dia, um dia enfim, terei minha paz eterna.
Por Luiza Campos