As águas límpidas do céu escorreram por meu monte, minha terra esturricada mesmo não sendo tocada pelo sol tinha aparência de morte, porque não se pode ter vida onde o verbo não consegue agir. Minha boca sedenta, desejando ao menos uma gota para que reanimasse minha esperança e os ventos tinham ido embora para não me refrescar de forma alguma, era uma estratégia combinada pelos anjos para que no meu fundo do poço pudesse minar a cristalização dos sentidos eternos, e assim pudesse ter fôlego para revigorar o restolho de alma que ainda cabia em mim. Entre as águas doces a pororoca acontecia, eram minhas dores unidas a minha expectativa de metamorfose, quiçá pudesse sair de tal estado e poder mergulhar na fonte de água viva, e ficar à espera do queimar, assim como reverberam as águas vivas dos mares.
Tanto o oásis quanto o deserto se encontram no mesmo lugar, dentro de nós e a mesma água que lava, se não houver o amor se torna pedra, bruta, que faz tropeçar. Mesmo em meio ao desamor, ouço o som do meu Itororó o qual quer se formar cascata, uma queda d’água sem limites, no meu âmago, a fim de tornar-se um salto, transbordante de águas límpidas para que arraste todo o mal que coube neste lugar, o qual pode tornar-se santo. Sim, eu quero, quero ser tocada por estas águas e que eu as toque também, porque o que sai da boca é o que se alimenta o coração e o que entra, deve ser o que mata a fome e a sede da alma, caso contrário é a vaidade mascarada de engano que não deixa com que seus pés sejam limpos por estas mesmas águas para caminhar livremente no plano do Senhor.
Por Patrícia Campos