Um caminhar pela esteira, pareço não sair do lugar, as vezes corro, como se estivesse fugindo de mim, na busca de um novo eu. Vejo uma mão querendo me resgatar, me tirar deste lugar, estico-me para alcançá-la, porque sei que ela tem o poder de me salvar, me arrancar deste lupping caótico. Há uma confusão de sentimentos na minha estante caverna, preciso organizá-los, colocar cada um em seu lugar, em ordem de prioridade, e muitos tirar da estante, porque são sentimentos indesejáveis, alguns mesquinhos, outros supérfluos, entre eles o ego, o orgulho e a vaidade. Me repugno diante a pequenez disfarçada de grandeza, gigantes minúsculos, me causa estranheza, não me reconheço neste enredo, porque no fundo no fundo tudo o que desejo é ser simples, trazer a humildade no peito, com sentimento, consentido, isto é o mínimo que espero e aceito de mim. Não quero ser uma estante invertida, de ponta cabeça, empoeirada pelo pó que me cerca, quero ser biblioteca que guarda histórias ricas, histórias de vida, histórias infindas, sem contagem de capítulos, quero ser livro, imergido em sentido, sem sentimentos mesquinhos, sem rascunhos perdidos, um livro que conte o amor.
Preciso aprender a amar, porque o amor está longe de ser o que penso que é, preciso aprender tantas coisas. O verdadeiro ensinamento mora dentro da gente, sua voz é constante e suas palavras são águas, seu tom reverbera naquele que se põe a ouvi-lo. É preciso ter simplicidade para aprender, coragem para assumir seus erros e determinação para superá-los. Não há fórmula mágica para obter a paz, mas há um caminho a trilhar, é preciso sair da esteira para prosseguir, alcançar novas paisagens dentro de si. Perdoar é uma virtude, preciso me perdoar por ter me feito tão insignificante, mudar meu significado, o qual só tenho um, quero me encontrar com ele, sentir sua hermenêutica vivida. São nos detalhes que mudamos, nos simples detalhes nos transformamos em gigantes eternos.
Por Patrícia Campos