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No silêncio da sepultura

O silêncio é uma voz que fala, tanto pela verdade, quanto pelo engano, depende muito do estado da consciência, do partido que toma para ouvir, se o bem da alma ou o mal, podendo levitar o coração ao céu ou descer ao inferno, voar na mão da vida em liberdade ou na mão opressora do diabo, mas o som do silêncio da sepultura e no silêncio do levantar para o dia se ouvem muitas coisas, como o arrastar das correntes na mente, o dia que demora para passar, as obrigações de um tempo recorrente e assim o estado da consciência só tende a piorar, pois a inclinação não é para a vida e sim para a morte que a conduz ao abismo. Um terreno comprado para findar uma fase, uma cova aberta esperando o deitar do defunto para aqui fechar o ciclo, cadê o meu calar? Pois foi ele quem me trouxe até este lugar, achei que estava certa com o meu pensar, mas a serpente enganou-me com seu sibilar, onde estão aqueles que falavam comigo? Não ouço mais suas vozes e nem o sussurrar, o silêncio também não fala mais comigo, devido o partido que eu fui abraçar, me perdi dentro de mim, enlacei-me no encanto, a solitude era só uma imaginação não vivida e o que eu sentia era mesmo a solidão da sepultura, calava a voz que dizia: vem para fora Lázaro, mas eu não tirei as ataduras do corpo, mas a mordaça reduzia em silêncio o negrume que meus olhos não mais enxergavam, só sentia as perfurações da espada afirmando a morte de uma alma condenada, o quanto que Deus me alertou, o tanto que Ele mesmo me incentivou, foram muitas caronas oferecidas pela vida, mas eu só enxergava a carne, e não a mão de Deus me mostrando a saída.

Fui embriagada pelo álcool da morte, caí a beira do mar morto, meu coração ainda estava a bater, meus olhos esforçavam para manter-se abertos e entre o azul do céu e a luz do sol, e o vento frio do fim a tocar a pele mórbida, via os abutres rondando um corpo de uma presa desfalecida, não via ninguém por mim, não tinha ninguém ali, o silêncio emudeceu-se e nem mais pelo engano abriu a sua boca, a minha eternidade, já está a frente, e não tem como evitar, será que dá tempo ao menos ainda de levitar meu coração? Tatear o céu em forma de uma simples canção? Não ouço mais os meus, tudo está tão quieto, nenhuma folha ao vento, tudo está quieto, nada da brisa da manhã, nada da aurora boreal, nada do amanhecer, tudo aquietou, a linha do infinito se rompeu, findou-se o tempo, tudo se perdeu, tudo agora é breu, fragmentei-me no nada absoluto e o que sobrou foi o silêncio da sepultura.

Somando nossas luzes

Por Lauro e Maria Lúcia