Não há mar que apague a dor, nem abraço que afague, mesmo que despeje infinitos oceanos a secura tem me perseguido. Os ventos não vieram mais me visitar, talvez porque eu tenha um temperamento melancólico. O cata-vento está parado e eu aguardo uma direção, o tempo passa depressa, mas vejo tudo em câmera lenta, até a folha que cai parece uma eternidade chegar ao chão. Sigo a inércia e sinto a gravidade sobre meus ombros. Descobri que não sei me expressar, não sei falar o que sinto, não sei nem definir o que sinto, porque quando paro para pensar sobre isto é como um cálculo que não tem resultado. Desaprendi a sorrir espontaneamente, não há afago, então me afogo, onde estão minhas nadadeiras? Meus tropeços foram tantos que as pedras que me rodeiam são penas leves, mas que perfuram, me atravessam, e eu atravessada sinto-me desamparada por mim mesma.
Será que me encontrarei neste tempo? Porque senão neste, não será em outro, porque uma hora ele acaba, e não quero acabar com ele, não junto a ele. As pessoas são muito mais tristes que felizes, muitos traumas guardados, muitas dores escondidas, muitas palavras não ditas e muitas palavras mal ditas. Realmente este mundo acabou, a doença alastrou, a lágrima que não secou. Fingir ser forte não nos faz forte, as aparências sempre enganam, só não podem nos enganar. Cada um com a sua dor procurando se curar, como encontrar remédio no frasco do tédio? As paisagens não mudam enquanto ando nesta esteira, sem eira nem beira, na beira do fim buscando viver.
Por Patrícia Campos