Qual é a minha parte? Se a parte que me invade é a parte que se parte, parte de findar-se parte de partir, dividir, e a parte que seria minha parte, se não cuidar, se parte, se vai, e me encontro sem parte. De que vale uma simetria sem metade, uma herança sem herdeiro, uma terra sem semente, sem mente, quem entende? Uma porta e quem se importa? Uma entrada no interno, o reverberar do eterno ou do inferno num tempo escasso, o qual não se faz caso, um caso que vira um conto, um sonho transformado em pesadelo, por não ter havido zelo pelo que tem de fato valor. Qual é a minha parte, minha cara metade? Que não seja tarde para alcança-la, que não a deixe partir sem mim, porque quero ser simetria da vida, e não da parte que se finda, porque o efêmero desperdiça uma alma, mas a vida a revigora sem fim de dias.
Onde está a minha parte, sou parte de alguém também, do ser que quer se estabelecer em mim, sou candeia e há uma luz que me habita, o óleo que traz a vida, que me vivifica, que me explica. Quem quer ser decifrado, tirar dos ombros seu fardo, não carregar o pó que pesa, mas sim levitar a alma pela vida eterna? Quero minha parte, minha partilha, ser arte que vivencia, uma obra construída não somente em rimas, mas ser uma obra prima. Quero apenas a parte que me cabe, antes que tudo se parta, ao meio, quero fazer parte do todo, que é, que nunca deixará de ser. Há um processo, faz parte, mas eu me enquadro, até me formar inteiro, e não ser apenas metade. E tudo seja compreendido, parte por parte.
Por Patrícia Campos