Rendida, espelho trincado, pássaro em gaiola, ranger de correntes, seus limites são as futilidades do coração. Mãos para o alto, mas não alcança o céu, só demonstra o fato, o medo arranha-céu. Incapaz, murmura, laço vazio enfraquece com o tempo e a busca se torna fugaz, os ponteiros tremem com a escuridão, o que vêm depois que o pavio parar de queimar? O chão parece-me seguro, já me acostumei com o peso das correntes ao andar, e de noite o concreto nem é tão frio assim, aqui é até grande para mim, só não posso correr, mas também cansaria se tentasse, é melhor assim, é melhor o fim, prefiro que acabe, mas, como será o fim? Prefiro não pensar assim. Se sou refém? Sou, de mim, e quem eu sou? Ainda não sou, e se serei? Miragens, uma fábula, por isso refém, medo, incapacidade, covardia, os meus cantam do céu e eu aqui em minhas ruínas.
Vou te contar uma história triste, de um sujeito que vivia nas trevas, e sua casa oca era o centro de sua densa floresta, ele nunca abriu os olhos, então não sabia que vivia nas trevas, nunca ouvira falar do sol, e mesmo se ouvisse não buscaria conhecê-lo, era um tanto quanto solitário, mas também nunca quis aliados, mas por tanto viver se alastrou no solo, virou raiz de vários olhos, e quem o via no canto da sala o chamava de medo, muitas vezes ele visita quem se assemelha a sua tez, e se já o vi? Bom, acredito que sim, no reflexo do oceano, já o ouvi chorar nas noites obscuras, no chão do banheiro, na cama vazia, e se fiquei com pena? Não, pois se sentisse pena estaria ajoelhada no canto da sala, dentro de uma casa oca, com o olhar vazio, e as extremidades dos lábios caídos, então não, não tenho pena, e de tanto sentir sua presença entendi que é sábio buscar o sol para aquecer meu poema, já cansei de ser refém, vou escrever meu conto com meu próprio tema, não temerei, pois ele não terei, e este sujeito fraco e sem jeito deixarei que viva como emoção, mas não em meu peito, porém como lembrança de um tempo adormecido.
Por Luiza Campos