O deserto engole o dia são, quarenta anos distintos para cada um, os céus não esperam a determinação, o solo se alimenta dos corpos deixados pelo tempo. Vagueando pelo deserto vi e ouvi muitas coisas, se verídicas ou miragens, ainda não me decidi, mas sei que muitas delas meu paladar não clamava por água, e meus olhos sóbrios. Sei que ampulheta cai depressa, e um dia lei se libertina, o que era certo fica incerto, e o tempo restante já não salva mais. O divagar se torna perdido, e alma vaga sem um tino, rebeldia alimenta tempestade, traçou sua própria catástrofe, e a chuva já não traz felicidade, mas salga a tez e afoga a possibilidade. A vida pulsa, mas seu pulsar é morto, está na carne, mas fora do coração, e o tempo se encarrega de deixar que os passos se percam, o destino torna-se mais distante, mais inalcançável, mais imaginável, mas não vivo.
Firmar decisões, sim e não, fantasiar procede miséria e traz infortúnios para alma. O mundo está ruindo, até quando se alojará nas rachaduras? Quando o cajado tocar o chão, o oceano se alimentará de suas loucuras, e tudo se perderá no mesmo instante, a guerra fora perdida, a esperança, o querer e o poder, tudo murchou, como murcha a primavera. No fim não adiantará o tempo ganho, mas só haverá o tempo perdido, o morno tem o mesmo destino do frio, sendo pior, pois teve o discernimento do quente. Não há desculpa, os loucos pulam do precipício sabendo da queda, e quem encontra asas vai permanecer na beira de sua liberdade?
Por Luiza Campos