Não se cobra, mas se paga, ninguém obriga, mas há um preço por viver à deriva, sem eira nem beira, agarrando-se a esta história passageira, nada que valha a pena, mas por isto foi lhe dado a pena, apegou-se no roteiro, e viveu em lembranças pequenas. Quanto custa uma saudade? Saberá quando o fôlego esvair-se de seus pulmões, quando suas mãos não mais tocarão, seus olhos não enxergarão e não haverá mais chão, apenas alma, apenas o que sempre foi, mas nunca viu, e agora terá uma longevidade para ver, dantes tudo tinha, mas nunca descobriu, sentiu, apenas deixou-se com o vento, se atracou no raso, como um navio sem vontade de navegar, e quando percebeu já era tarde, que o maior desejo que tinha era estar em alto mar, mas hoje quais águas têm?
Secou, secou até mesmo a dor, não escorre alívio, mas afoga, não transborda, apossa, e tudo o que mais queria, mesmo que seja dolorido, chorar, chorar até amanhecer, pois também iria poder ver o sol, poderia ver mais uma vez a grandiosidade do dia, e a beleza da manhã, quem tem esta honra depois que os ponteiros deixam o relógio? Nem mesmo os céus podem encontrar a cova que se enterrou, apenas ficará, pelos próximos anos, até anos virarem décadas, e séculos, milênios e eternidades, em si mesmo, convivendo com aquilo que sempre fugiu, a verdade, de ser o que é, de ver o que vê, e de não ter visto antes, por ter fugido, pobre covarde. Qual maior saudade há do que a saudade de viver? Acredito que nada equivale, pois não há moeda, diamante ou tesouro que pague a conta desta saudade.
Por Luiza