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As pragas dos ventos

Eu subi num pináculo e vi o vento assoprando os quatro cantos da Terra, o primeiro era nojento, o segundo traidor, o terceiro tinha boa vontade e o quarto encontrara a sua estabilidade. Eu me propus a entender o significado daquela visão, entendi que os quatro cantos da Terra são quatro tipos de consciências. As primeiras são consciências nojentas, intragáveis, insuportáveis, que não tem diálogo, as segundas são consciências traidoras, não confiáveis, indignas, mau caráter e também imprestáveis, as terceiras são consciências que parecem ter boa índole, mas são as piores que engana a todos por debaixo dos panos e as quartas são consciências que parecem ter encontrado sua estabilidade nesse mundo, parecem tranquilas, mas são ansiosas pelas coisas carnais. Eu continuei vendo os ventos que assopravam vaidades sobre as pessoas, assopravam também avareza e a soberba, e as consciências eram contaminadas pelo vento, traziam também algumas pragas como o ciúme, a ira e a lascívia. As consciências queriam tirar de sobre elas estas pragas, mas as pragas vinham sobre elas como as poeiras dos ventos e elas fechavam os olhos para não encherem de poeira, e os ventos zuniam em seus ouvidos. Eu via as consciências buscando um abrigo para se esconderem dos ventos, mas parecia que elas estavam num deserto onde não há abrigo, elas tentavam colocar as mãos sobre os seus pecados, mas a luz do sol não as deixava escondê-los, era tudo à luz do dia como as fraturas expostas, já estavam manchadas pela força dos ventos.

Eu via também como uma mão estendida, mas elas não viam, porque a poeira dos ventos não as deixavam abrirem os olhos. As consciências nojentas eram contra as consciências traidoras, que por sua vez criticavam as consciências nojentas, as consciências de boa vontade pareciam querer apaziguar a situação, mas não tinham força em si mesmas para tomar uma decisão, e eu via as consciências que pareciam ter encontrado sua estabilidade se apoiando nas outras consciências. Eu vi também no meio daquela ventania algumas flores querendo desabrochar, mas os ventos fortes arrancavam suas pétalas, são flores do deserto que no meio de milhões se salva uma ou outra. Eu comecei a chorar por ver aquelas cenas, queria que os ventos parassem, mas não tinha poder sobre eles, os ventos estavam varrendo a terra com suas poeiras, como aqueles vendavais que levantam suas dunas. Parece até bonito de se ver, mas escondem suas sujeiras debaixo da areia. Os lábios já estavam rachados pelo calor do sol, as mãos trêmulas e para respirar tinha que pôr um pano sobre os narizes. Quando despertei da minha visão vi que tudo era real, queria voltar a visão, mas os ventos se foram, bati com a realidade nua e crua, queria que não fosse verdade, mas fui dormir com aquela dor no meu peito. Esperava que acordasse no amanhã e visse que tudo foi um sonho, mas a realidade era muito verdade para que eu acordasse na fantasia.

Por O teu espírito diz