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Cerne da terra

Vagando pelo cerne da terra encontrei as raízes que me sufocavam, por conta de um fardo inanimado não brotava, vingava até a noite chegar, abraçava as trevas e se proliferava. No meio desta guerra silenciosa percebi que tinha que me atentar, não precisa haver explosões para poder se dissipar, as coisas acontecem com a quietude das marés, com a beleza das estrelas, no véu da noite, no silêncio das madrugadas, elas correm pelos escombros e se alastram por suas veias, um veneno que se espalha mudo, adentra nos veios, corrompe a terra e afoga a alma.

Como descrever o espinho carne? Dormência racional, cega os poderes e aflora o animal, andando sem freio, sem rumo, sem prumo, em luto, andando de ré, e sem querer não percebeu, que depois desta curva clareava o puro breu, e nada vinha, nada tinha, nada queria, pois nada era, nada via e nada sentia, um poço fundo e vazio, um louco sujo que passa frio, ou melhor, o frio seria bom de sentir, se pudesse senti-lo ao menos teria algo a se agarrar, mas nem mesmo a frieza dos dias acompanhavam seu caminho, desintegrou-se em pedaços tão minúsculos que nada alcança seus espinhos, eternos, nada terno, vivendo a ermo, na margem da vida, longe das trilhas e dos sorrisos serenos. No final, não tem moral, perdeu-se em sua própria ilusão mental, não se aprofundou, quando percebeu não era mais, deixou escapar pelos dedos sua relva, sua paz, e agora não restou nem as lágrimas, apenas lembranças de um solo fugaz.

Por Luiza Campos