O abraço do sol é minha casa, mas até chegar em seu laço ainda vivo abaixo, debaixo, submetida a seus raios e sujeita a seu calor abrasante, incessante, não só descongela o coração, mas o vaporiza e o refaz, de gota em gota, de ar em ar, a cada respirar, revira, assola, desfaz, no entanto, constrói. Até chegar no fim, ainda estou aqui, até lá, ainda terei que caminhar, e até lá, não posso desistir, por onde passo vejo areia e areia, o tempo parece não girar, um círculo, uma roda viva, gigante e devagar, mas de passo em passo, de roda em roda, sinto o borbulhar em minha alma, o sinto, e por isso me banho com a esperança, temperança, para que apazigue o ardor e me cure, dos pés a cabeça.
Debaixo do sol serei sua, com os braços abertos para seu calor, até o fim dos dias estarei aqui, metamorfosear para seu alvor, e por fim voar, para longe desta terra seca, voar para a liberdade que é viver, e viva não precisarei mais estar assim, então estou aqui, para viver, viver para ser, eternamente, nos braços das estrelas, ao lado do Sol, sendo-o, por toda eternidade. Por enquanto continuo, por aqui, continuo neste caminho que me foi apresentado, seguindo as asas dos anjos, e calando as vozes dos pecados, a perfeição vai se construindo, de pouco em pouco, do raso ao fundo, até encontrar-me em minha totalidade como alma, pura, imaculada, para banhar-me nos olhos estelares, e transformar-me. Este é o caminho da vida, o caminho para viver, é preciso passar pelos raios do sol para depois renascer.
Por Luiza Campos