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Fogueira sem brasa

Se colocou num estado inexistente por faltar-lhe uma mísera fagulha. Não se preocupou em destruir suas asas, nem em deixar seus pés no chão, que dirá sentiu vergonha por sua nudez. Foi assim que seguiu sem cuidar de si. Desistiu de ser quando se emaranhou ao pó, foi arrastada pelas tempestades e estas águas não foram o suficiente para lhe limpar. Não percebeu a tempo que precisava se tornar um inteiro e mesmo sentindo falta de algo tentava se unificar a uma simetria que não se atraiam feito imã de polos diferentes, mas tudo o que procurava se unir eram entre o norte dos polos de cada um, então se fazia uma imensa força para tentar unir o que nunca seria unificado, porque tudo deste tempo efêmero acaba, e como uma alma poderá se unir ao que é finito e fugaz sendo infinita e eterna? Sensato seria unir-se à vida, porque esta também é infinita e eterna, é abundante e seus dias nunca serão contados. Tentou buscar uma licença poética para sua loucura, julgando ter o poder de ser o que quisesse mesmo sendo nada. Tinha tudo nas mãos, mas não se importou em soltar, talvez por não perceber a tempo o valor do que tinha, mas em poucos dias descobriu sua bulimia, uma alma vazia, fria e sombria que pela dor passou a espelhar o vazio. Esqueceu-se que um dia fora uma fogueira, mas que perdeu a brasa da vida, se apagou e virou cinzas e hoje não se conta em lugar nenhum a sua história.

Por Patrícia Campos

Tema sugerido pela irmã Loir