Eu te via com tantos olhos, olhos de ternura, olhos de amor, cheguei até te comparar com um lindo beija-flor, tirando o meu néctar como se tira das flores, cheguei a te desejar muito, mas não pude te tocar, pois minhas mãos nunca te alcançaram. Talvez você não me percebeu por eu ser tão discreta, mas a minha alma sempre te desejou muito. Sem ti eu vou morrendo aos poucos, vou perecendo aqui nesta minha agonia. Eu preciso que me toque a alma, como tocou Rebeca, Rute e Ester. Eu preciso ser casta, branca como a neve, imaculada, leve como a pluma e firme como a rocha, mas sei que não sou assim, pois o vento já me levou como as folhas secas no inverno. Eu preciso da sua ajuda, preciso que me estenda as mãos, pois não consigo te tocar. Queria sentir suas mãos me afagarem, tocarem a minha alma para sentir o seu prazer. Não sei se sou louca ou estou ficando louca, deve ser a sua ausência ou por sentir a falta dela. Vou correndo pela vida em busca de mim mesma, mas ainda não me encontrei, já estou desesperada, fazendo até coisas de psicopata, eu apalpo pelas paredes como uma cega e não te vejo. Talvez queiras me poupar, deixar eu me decidir, escolher a vida que quero para mim. Talvez me falte a decisão, a falta de um irmão para me dar um empurrão. Ah! Como eu queria te sentir, te tocar e ser tocada, mas a minha alma não trabalha o imaginário, mas às vezes se comporta como uma desvairada. Eu não sinto o invisível, por isso eu não me firmo na vida, eu só sinto o tangível, os meus sentidos são carnais, e eu só ajo por instinto como os animais. Não me vejo em outro plano, muito menos em outro corpo e muitas vezes me sinto incapaz. Fiz da carne a minha irmã e não conheço outro irmão, eu não tenho o mesmo sangue e o meu nome não é Sarah. Queria sentir o sangue nobre correndo por minhas veias, olhar além do infinito e tirar essa dor do meu peito. Queria ver exalando todas as suas virtudes, discernir os gestos, os olhares e as intenções dos corações.
Queria falar, agir e sentir pelo ser eterno, pelo meu eu verdadeiro que ainda não encontrei. Por que eu sou assim? Tão volúvel levada pelo vento, ora me sinto elevada, ora estou caída ao chão, até tento criar asas e voar, mas os instintos carnais são fortes e quando vejo já despenquei lá do alto. Fico me debatendo em minha cela, onde a agonia me sufoca e a ignorância cega minha visão. Sempre ouvi falar de um irmão que acalenta e abraça o coração, mas não o reconheço ou talvez ainda não compreenda sua ação. O tempo está passando, a ampulheta se findando e sinto o sereno da noite escorrendo por minha cabeça. Estou no lugar errado, não é aqui fora que vou me encontrar, aqui fora estou perdida, e talvez aqueles que tenho estima farão ser triste minha sina. Irei adentrar meu interior, pois para tocar o invisível é dentro de mim mesma que devo estar, pois a mão de Deus sempre esteve estendida e nela devo me agarrar, ficarei aqui quietinha, deixando-a me moldar, pois quero ser pelo infindo, refletir a imagem de Deus por meu espelho e reconhecer meu verdadeiro irmão.
Somando nossas luzes
Por Zeca e Michele