Primeiro é preciso fazer a leitura do próprio prognóstico, reconhecer que sua alma está adoecida, se acolher como enfermo, ser cuidador de si mesmo, porque ninguém melhor que você para cuidar de si, até porque todos estão adoecidos, com suas ligações, suas doenças intermináveis, e como um doente cuidará de outro? Olho para um lado e vejo um olhar triste pedindo socorro e não sabe nem o porquê, olho para o outro e vejo um falso sorriso escondendo mágoas e traumas às vezes causados por si, outras causado por alguém que diz amar, quem conhece o amor para dizer ser íntimo dele? Vejo doentes querendo ser doutores, expondo a ferida de um esquecendo da própria ferida. As almas estão inflamadas, por falta de discernimento se perdem pelos atos e fazem outros se perderem do caminho, por suas próprias confusões. O confinamento em si mesmo é primordial, não ouvir as vozes externas, muito menos as internas que querem te corromper.
Neste mundo onde a falsidade vem num sorriso fingido, o melhor a fazer é viver sozinho para tentar se curar. Não há como se curar no meio de tantos doentes, tantas doenças transmissíveis onde os olhos se tornam libertinos onde um único dedo da mão aponta para o próximo sendo que três estão apontados para si mesmo. A soberba vinda de um doente não produz frutos bons, é preciso se pôr por último, se sentir o mais miserável dos miseráveis para que talvez tenha alguma chance de sobrevivência e mostre um fio de arrependimento. O desejo da cura é indispensável para que ela se faça presente, se não desejá-la não terá a sua permanência. Na madrugada até os pássaros se emudecem para que você ouça no silêncio a voz da sabedoria, são doses de cura que precisam ser tomadas, caso contrário serás tomada pela fúria do vazio, que engole e lhe cospe como um prato frio.
Por Patrícia Campos