À vós cantou o céu, com a voz que emana leite e mel, desemaranhando os nós, para que possamos enxergar além do pó, há pena que se cobra se não ouvir o entoar, será a eternidade sem nada para se apegar, não terá pena ou dó, mas apenas as lembranças para recordar. Ele nos abraça e nos lembra a todo momento, que pulsa, que está, que vive, mas sente quem o tem e vê quem está acordado, o resto desconhece, vive sem prumo e sem rumo, um forasteiro que se enlaçou com o tempo e não quer mais solta-lo, entretanto, um dia cairá dos ponteiros e não haverá chão para se acomodar, nem mesmo um fim para se quebrar, mas cairá, cairá e cairá em um poço que não há água nem limite. Tudo continua em seu devido lugar, bailando conforme o pássaro piar, apenas o coração quis ficar, emperrando o ciclo que já fora montado muito antes de sequer imaginar, uma pequenez quis contradizer as leis dos céus, e por um curto período de tempo parecia que havia tido uma vitória, mas quando a derrota bate à porta, tudo desmorona, como se nunca tivesse escrito uma história, pois de fato, nunca escreveu, viveu em um conto vazio, e se perdeu por não ouvir a voz do Senhor.
É tolice buscar profundidade em uma poça de lama, nada se encontra, nada se ganha, há um manancial jorrando em seu peito, um oceano desconhecido lhe chamando, instigando-lhe a ir mais fundo, buscando por sua alma e sua alma buscando pela vida, espelho e sua tez, uma perfeita simetria, não há angústia, dores ou absinto, o fel não ganha a boca e não escorre pelos olhos, mas a vida se encontra em sua voz, pois veio por você, para completar-se em um único e eterno corpo, e assim lhe guia, sendo passarinho cantando seu caminho.
Por Luiza Campos