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O trem da vida

Eu sei que você não entende porque eu não falo nada, a língua da vida que eu falo não precisa dizer uma palavra, você não entende o segredo, não abre as portas do céu, está coberta com a carne com medo de tirar este véu. Estou lá dentro do vaso com pétalas da flor de jasmim, um cheiro suave às narinas a vida que eu quero para mim. Não falo de coisas estranhas, mas dentro está meu jardim, a árvore da vida no meio, guardada por um Serafim. Quem come do fruto da vida não morre de tédio maldito, mas nasce de novo para vida jorrando palavras benditas. O fogo do céu purifica limpando a alma do mal, a vida renasce de novo e um novo rosto reluz. Não quero voltar mais para as trevas, encher minha alma de dor, a vida no mundo é uma merda e à face de um sofredor. Angústias, tormentos e fúrias são algumas das doenças da alma, o medo da morte os perturba e o passado que não quer calar. Eu vejo a podridão no olhar e o cheiro da imaginação, a faca entalada no peito e o fel escorrendo nas mãos. O ódio estremece os dentes e a fúria não os deixa calar, sibilam venenos da boca e matam os justos da fé. Eu quero sair deste mundo e não olhar para trás, não quero saber quem eu era e quero esquecer os meus pais.

A vida me ensinou a ser rude, até os mais íntimos me traem, não posso confiar nos amigos que zombam de mim por detrás. Eu vivo num mundo sombrio, penumbras não vão disfarçar, eu vejo com os olhos da vida, não dá para ninguém me enganar. Eu fico com dó dos terrestres que levam uma vida ruim, não sabem à que vieram ao mundo e vão se lançar no vazio. Vão ficar parados no tempo querendo mudar as estações, mas o trem da vida foi embora e com ele todas as suas esperanças. Agora é brincar com seu nada, sem ter mais nada a oferecer, viveu neste mundo correndo e agora não há nada a fazer. Dentre tantas baldeações sem sentido, desceram e saíram do trem, a vida que corre no trilho não vê o juízo em ninguém. São tantas viagens perdidas, sem sentido e sem direção, são tantas almas aflitas se perdendo na multidão. Não sabem à que vieram, e nem desconfiam do porquê de estarem aqui, não percebem que a vida foi quem lhes trouxeram e chegará o dia do fim. Ó vasos perdidos, onde estão suas pétalas perfumadas? Seus desejos são tão incontidos que a pétala de malmequer fora a última encontrada. O que era para florir em meio aos trilhos da vida, saiu dos trilhos se perdendo do caminho, e agora mais nada lhe resta além de encontrar-se vazio.

Somando as luzes

Por Zeca e Paty