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Parar de lamentar

O som do campo é sereno, assim como seus ensinamentos, o tempo é quieto por aqui, até me esqueço das tempestades, aqui posso ficar para sempre, mas o que me puxa para o solo frio? O céu é limpo visto daqui, seu azul cristalino alimenta a terra e o infinito, a vida está presente nas pétalas, nas aves, na dança dos mares, por aqui eu me sinto em casa, um sentimento de realização, uma paz viva, chama-me para adentrar suas raízes, me abrigar em seus galhos e construir histórias. Seria mais fácil se minhas próprias confusões não complicassem, um passo de cada vez, mas o que fazer quando não vejo nenhum único passo? Alcançar a liberdade é mais difícil do que parece, as correntes sempre insistem em lembrar que existem, uma lagarta que anseia pelas asas do futuro, mas que ainda nem construiu seu casulo, um pássaro dentro da gaiola, entretanto, nem fechadas estão as portas, uma escolha tão angustiante quanto se afogar no raso, uma morte lenta com a saída na alma.

Nada é tão complicado quanto parece, a loucura está no centro do rodamoinho, quebrar ciclos é necessário para pensar, deixar que o mundo gire enquanto há tempo para respirar, entender a mim é muito mais preciso do que viver sem me importar, um dia ampulheta cessa e não haverá mais caminhos para andar. Penso muito, pouco faço, neste campo tão límpido, preciso apressar meus passos, os ponteiros não esperam a determinação, ela se dá longe da força do tempo, quem impulsiona é cada coração, com a chave e o cadeado nas mãos, a luta é o reflexo e a alma, ela mesma se condena ou se salva. O anjo pode até amanhecer o caminho, mas quem escolhe caminhar? É preciso parar de lamentar-me, pois lamentável torno-me aos meus olhos, túnica viva cobrem meus olhos, revestir-me-ei da coragem e avançarei por entre os nós, desatar os laços é o princípio, e aos poucos não haverá cinzas para se lembrar do que havia, mas o que terei será apenas a calmaria do campo, a beleza da maré e a plenitude dos céus, que assim seja a força do Senhor em mim, amém.

Por Luiza Campos