É o fim, não há mais o que fazer, o tempo não dá tempo e o coração bate descompassado no compasso da desilusão. A alma faminta se alimenta das migalhas desta vida mesquinha e o estômago da alma faz eco de solidão, há tempos chora a falta de sustento, as palavras do mundo a sufocam a ponto de explodir e mesmo destroçada a falsidade vem acompanhada com um sorriso amarelo no canto esquerdo do lábio, em cada esquina um pedaço das mil faces caídas ao chão, perdeu a referência, mas não sente a diferença, acha normal a indiferença que trata a sua razão, a alma reclama os pedaços da vida efêmera que soltou-lhe as mãos, não há remédio para tanta ilusão, os olhos deságuam as mágoas sofridas, cada ruga rabiscada em seu rosto conta o amargo das suas decepções vividas.
Os traços antes finos e delicados, hoje se tornou em laços que com o tempo a enlaçou por conta de seus inúmeros planos fracassados, seus olhos vagos lacrimejam a dor da solidão, vive olhando para o nada, a esperança morreu em seu coração, pensamentos vazios, a vida está por um fio, perdeu-se o rumo, o sono, perdeu a razão e as noites solitárias se tornaram sua fiel companhia, vaga sozinha na beira do abismo, anda na corda bamba e pisa a lucidez desprezando o único capaz de lhe resgatar da boca dos leões. Preferiu andar com os mortos, a embriaguez é o seu colo, mas o silêncio da ressaca amargurada lhe destrói os ossos, pouco a pouco está se definhando, soltou as mãos do anjo ajudador, agora fica aí cabisbaixa tentando colar o pouco que lhe sobrou a lucidez da sua alma que chora o desamor. A solução seria dar meia volta rumo à salvação, parar para refletir a razão, deixar as loucuras de lado, ouvir a voz da verdade que clama no deserto do seu pobre coração, mas a insana anda ocupada demais com seus devaneios e a cegueira da sua visão não a deixa ver um palmo da loucura que comete a si mesma, não consegue sentir seus pés escorregando para o abismo, a morte já lhe acompanha e não lhe assombra, mas o brilho da vida lhe ofusca os olhos, nem a morte nem a vida lhe chama atenção, pobre coração!
Por Milena Gomes