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Preenchendo-se de vazios

Olhou seu peito e viu um abismo, gritou e o eco demorou calar-se, correu seus olhos ao redor de si, seu horizonte não havia mais cerca, fora derrubada por lhe faltar limite. Começou a jogar para dentro tudo o que via na tentativa de preencher-se. Atrás da sua cortina se veem as incertezas, os medos que não se calam, as dores que não cessam, o mar que se derrama e não se vê a pororoca, as águas doces as quais nunca a encontram. Tentou cobrir-se de pequenas riquezas, valorizadas por sua pobre consciência, julgou que o amor seria um sentimento mesquinho, egoísta e fazia desta fantasia um escudo junto ao seu sorriso infeliz, não era nem mero aprendiz, porque nada aprendeu, e o nada abraçou como se fosse seu professor. Quem sabe consiga me preencher, dizia a pobre alma, quem sabe eu faça amigos e com eles eu possa me alegrar. Quem sabe eu tome um vinho envelhecido e consiga me aquecer.

E se eu me entreter com esta vida, será que serei preenchida? E se eu cantar uma música, será que a tristeza se vai? Não existe curso de culinária para alimentar a alma, mas ela própria, se quiser, pode elaborar seu próprio alimento eterno. Só se preenche àquele que despede seus vazios, que consegue dar adeus aos seus sentimentos sombrios, porque as trevas são infinitas e vazias e só se preenche de verdade aquele que retém luz, porque diante a luz nada fica escondido, a luz nos mostra a verdade, nos preenche de certezas, porque através dela conseguimos enxergar todas as coisas. A luz da sabedoria enobrece, e faz do seu possuidor um coração tesouro. Pobre daquele que não se encontra com a sua liberdade, que não se alimenta da justiça, que não tem prazer no amor, este será triste por toda a eternidade por viver este mero tempo efêmero preenchendo-se de vazios.

Por Patrícia Campos