A cena se reprisa enquanto minha carne cai no sono profundo, é como se a minha consciência se desligasse do meu corpo carnal e parasse dentro de mim mesma, onde nada material sinto, mas apenas ouço minha voz proclamando o evangelho de Deus em uma única frase, é uma sensação estranha, mas ao mesmo tempo leve, é como se eu estivesse sozinha em um planeta sem habitação humana, onde eu ouço a minha própria voz ecoando em meus ouvidos, não dá para descrever muita coisa, pois é curto o tempo, é questão de segundos e logo minha carne desperta e eu fico com aquela sensação zunindo dentro de mim e me pergunto; o que é para eu fazer, como devo fazer, o que será que Deus quer me dizer ou me mostrar? Não sei exatamente o que é, pois quando retorno à sensação fica forte, mas não lembro as palavras ditas, só sei que era sobre o evangelho de Deus.
Será que Deus quer que as minhas palavras saiam do papel e comece a usar a minha boca? Se for isso eu preciso soltar a minha língua como jamais ninguém viu, despregar as pregas da alma e limpar minha voz para o canto sair afinado, pois não é qualquer música que teria que cantar, mas é o tom da orquestra do céu, seria uma responsabilidade grandiosa, ser um microfone nas mãos de Deus, um instrumento vocal a cantar o hino do reino de Deus, a melodia dos anjos, o caminho da vida, recitar os versos eternos. Já pensou não cantar mais no silencioso e sim sair por aí dando de comer as ovelhas perdidas, colocando as palavras de Deus dentro dos corações, eu não seria como Paulo, defensor das leis de Deus, mas como um toque simples e sutil da sensibilidade, eu quero dormir mais profundamente, passar mais tempo falando para mim dentro do meu universo para tudo ser esclarecido e compreendido…
Por Maria Lúcia