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Solilóquio

Dentro desta noite quieta, alojo-me do lado de cá da vida, onde as ondas são serenas, mas uma nova tempestade se cria. Em tempos de guerra a paz assusta, a rosa murcha e o carmim se desnuda, vergonhas silenciosas que se mostram em olhares, solilóquio de um tempo solitário, sou eu e mais ninguém, sendo Eu pela vida e ela pelo meu bem. Não ousaria largar o que me sustém, nesta areia movediça o céu é meu guia, estou saindo desta base sem chão, indo atrás do que vivifica meu coração, estou cansada do tempo gritando, das vozes intrusas, dos laços mundanos, e das loucuras confusas, peço um pouco de silêncio, para mim e para noite, que por enquanto, me acompanha. O pesar às vezes arranha a garganta, embarga a voz e acinzenta os dias, entretanto ensejo que busco requer sacrifícios, deixar que arruine o que estiver por detrás de minhas costas, abafar os gritos e esquecer os ruídos, e por mais que isto não alegre meus ouvidos, eu sei, que o galardão que procuro está depois deste abismo.

Um luto por mim, por isso deixo que as nuvens contem suas tristezas, pois o amanhã virá e trará sua majestosa beleza, atribuindo ao céu luz em suas formas, e a assiduidade que ainda não me cabia, mas que há de ser minha, sendo um começo muito bem regido, com estrofes desenhadas a mão, arte em toda linha e em mim tela viva. Despeço-me de quem era, para raiar uma nova estrela, guerrear contra mim, conquistar minha centelha, ser chama carmesim, novas águas, outro cais, novo porvir. Dou adeus a este reflexo, que não mais reconheço, deixando o que é velho, não estando mais a ermo.

Por Luiza Campos

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