Enquanto as águas descem, a intuição ensina que é preciso se aprofundar cada vez mais, tornar-se mais sensível, perscrutar minuciosamente seu próprio caminho, averiguar seus passos, ouvir sua razão, não fechar sua porta ao céu. Por vezes, as mesmas águas que descem são as que fazem escorrer seu mar, porque elas trazem alegria à quem tem prazer em retê-la, guardando-as em seu odre submerso na alma. Aos poucos vai molhando a boca para que ela permaneça úmida por estas gotas celestes, as quais penetram as raízes da boa intenção e vai fortificando a árvore para que o fruto se torne agradável ao paladar do Agricultor do alto. Um fruto consciente de si mesmo, consciente do quanto precisa tornar-se proveitoso, o qual deve se embebedar das águas inodoras, cuidando de si.
Ter a ciência e a conscientização do que se é, e do que possa ser é fundamental, porque a grandiosidade que nos envolve ainda é menor do que o que podemos nos tornar, quão grandioso é toda a imensidão que somos, campos lúcidos e lícitos, eternos e infinitos, sem poder olhar ao horizonte porque somos além. E ainda assim o pó nos faz sentirmos tão átomo, minúsculo, esdrúxulo. O que há de ser feito, é rasgar o conselho do efêmero, traçar um novo roteiro, inteiro, certeiro. Porque se mantivermos nossos peitos presos ao desespero, o grito será eterno e não será de liberdade.
Por Patrícia Campos