Nasceu alvura em pétalas inocentes, vive em solo brando enquanto casto, campo de luz que aos poucos escurece, o tom da consciência vai aflorando, ao mesmo tempo o que dantes era puro vem aos poucos trazendo carmim, conduzindo dor ao campo e cor ao pranto. Artista de suas ilusões, criando novas fábulas com suas próprias mãos, tingindo as rosas de vermelho, acorrentando seu pobre coração. Os espinhos tornam-se perigosos, a graça da vida vai perdendo a castidade, o tempo vai ficando enfadonho, e as flores que eram tão vivas, estão murchando, a cada raiar, queimadas pela vergonha de estarem nuas, veste candida não se encontra mais. Solos machucados e cansados, há muito já se acostumaram, aceitam o que vier de bom grado, mesmo que sejam ardores e pecados, seguem a diretriz que lhes foram ensinados, mas nunca se questionaram, nunca tentaram, nunca mudaram, uma herança de erros e transgressões.
O medo aliou-se a sua incapacidade de mudar, por isso transmigra para o isolamento de si, vive escondido dos olhos alheios, e se colore de carmesim, já se acostumou com a ideia do fim, suas veias murcham aos poucos, e os poucos se tornam muitos, até não haver, não estar, não poder, deixou a ação, para por um tempo ser, ser ninguém, pensar ser algo, e não construir nada, a não ser sua própria destruição, pois é o que tornou-se, destrutivo, para si e para os outros, nasceu girassol, mas cultivou espinhos. Tingiu-se do que não é, e com o tempo aceitou as máscaras, o campo secou, agora é só esperar, que um dia tudo escorrerá por entre seus dedos, as ilusões, seus contos e suas falhas, tornaram fumaças, mas tão distantes, que não haverá forma de captura-las e muda-las.
Por Luiza Campos