Amanheceu, mais um dia, os passos cantavam a sinfonia tão conhecida, nem se perguntava, apenas vivia, mais uma na multidão, outra sina perdida, os olhos marejados, cansados da vida, mas acordam para sobreviver mais um dia, mais um e mais outro, sem nunca se questionar, nunca duvidar e nunca saber, o porquê de ser, o porquê de viver, o porquê de buscar tantos ais que não eram para florescer. Só, nas estradas e nas sombras, conta um canto só, com um laço frágil, uma peça quebrada, uma fábula trágica, viver assim é morrer antes do fim, viver desta forma é não ter forma, se enquadra aonde lhe colocam, horas sorrisos, horas lágrimas, mas sempre vazio, sem óleo, sem combustível, uma candeia apagada no escuro, uma alma que vaga em luto, a todo tempo, o tempo inteiro, metade de si, sem aliança, sem companheiro.
Os lençóis brancos, mas a alma louca, inocência nas mãos, mas vergonha nua, crua, anda pelas ruas sem roupa, sem máscaras, e as tristezas embalam em sua garganta e sufocam seu olhar pesado, se for para assim viver, por que vive? Os portões se abrirão, mas ficará para fora, pois a alma empobreceu com suas ilusões, tomou para si o candelabro vazio, e entornou-se de trevas, embebedou-se de mágoas, esqueceu de cuidar de si, do que tem valia, no altar o nada e prostrado perante ele, a vida, qual autor inverteu os papéis? Escreveu seu próprio conto trágico, dramático, cheio de baixos e mais baixos, o preço que se cobra foi muito alto, e não quis dar-lhe tanto pela felicidade, preferiu doar-se para os infortúnios, tornou-se uma fraude, de si mesma uma cópia, uma alma morta, louca, como as loucas das histórias, não entraram no palácio e ficaram do lado de fora.
Por Luiza