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A valsa do amanhã

A noite convidou o dia para uma dança, e enquanto valsavam a música perpetuava, bailaram pelos campos, pelas nuvens, pelas estrelas, e conversavam sobre os ciclos que se findam e que voltam a girar. Eu não saberia dizer quando começou, mas para eles já faz quase uma eternidade, que nascem e morrem, que continuam e continuam. Em certo momento, ao observarem os seres terrestres a noite perguntou ao dia: por que eu sendo breu escolhem meu manto? E o dia retribuiu: porque meus lençóis são claros e iluminariam suas manchas de sangue. Não entendiam o porquê das almas vagantes correrem atrás do nada e construírem suas casas vazias, mas continuavam a cobri-las com seus lençóis, e a abrasa-las com seu calor, continuavam, pois era o que os passos ditavam, o que o céu cantava e as notas pediam, que girassem, que caíssem e se reerguessem, que ficassem para que houvesse dia, e para que houvesse noite, mas se o mundo merecia a presença destes bailarinos, era uma dúvida que nem mesmo os céus saberiam responder. Uma valsa infinita, a valsa do amanhã, nem todos estarão aqui para vê-la, mas eles sempre estarão para todos, para que alguém, algum dia, acenda a centelha, e deixe que a luz da manhã explore os limites dos campos, e mesmo que haja carmesim no solo, a tempestade também pode vir para abraçar, purificar, e dançar neste balé sincronizado que é a vida.

Por Luiza Campos