A intenção era o amor, porém mergulhava no rio onde o desamor desaguava no oceano do egoísmo. As vozes ecoavam o amparo, mas os braços que eram para levantar, empurravam. A incompreensão se unia ao silêncio e ao medo, era eu em uma bolha sem saber para onde correr, o que fazer, quem devia ser? Agradar a quem? Ando agora ou espero? Agora é hora de sorrir, sorria! Não chore, seja forte! Apontava e aprontava, dois pesos e duas medidas, minha sentença, absolvida por mim mesma, enquanto a sentença alheia, no mesmo erro, não há fiança. As estações vinham e iam, e eu me encontrava no mesmo lugar, parecia até que o tempo passava, mas eu continuava igual, não que eu não tenha envelhecido, mas lá dentro estava tudo do mesmo jeito de quando me abandonei. Quantos caldos de tantas ondas tempestuosas tomei, engolia seco meu mar salgado e mesmo assim não desisti, só tinha a mim e ainda me tenho.
Comecei a ter a percepção de onde estava o desacerto, estava caminhando no caminho externo onde as flores não perfumavam, onde os pássaros estavam em gaiolas, e o céu era nublado, onde a vida não estava em mim. Fui me deparando com o verdadeiro caminho que devo percorrer, que é interno, vi-me flor do deserto, emaranhada com o vento, buscando um lugar estável em mim mesma. Sou eu e o caminho, Eu Sou é o caminho, a voz que grita no meu silêncio me oferecendo o cais do porto eterno, no mar constante, onde a permanência são para os justos. Até ontem estava atrás de um caminho oblíquo, onde seu fim era num abismo sem fim, e não sei como, mas quando vi deparei-me com o caminho em mim e o amor sutilmente me indicando, “é por aqui”, e uma canção suave sussurrava para que eu ficasse do meu lado e não me perdesse de mim.
Por Patrícia Campos