Eventualmente o infinito brilha com as águas, como cristais dançantes com a luz da manhã, de tempo em tempo ele aparece, mas tão subitamente se vai com a chegada da madrugada. Estes lampejos vivos bailam com as ondas do oceano, colorem o azul com o mais belo tom do sempiterno, e quase acende o dia na alma, mas tão vazia esta casa se encontra, que nada a preenche como ela deseja, busca tantos nadas pela vida que quando percebe seu olhar já perdeu a cor, e nem mesmo este esplendor natural a encanta. Viver parece fácil, mas nem sempre é assim, muitas vezes é por escolha do próprio coração, a ilusão parece brilhar mais que os lampejos das marés, e quando percebe já é tarde para voltar atrás, as conquistas vão definhando, a pele enrugando, os tic-tacs vão cessando, até quando? Até quando permitir, entretanto, um dia o oceano não sustentará mais sua terra, e virá com a tez do tsunami, afogará suas tristezas no abissal, e por lá ficará, com o gosto do fel e do sal, não há como fugir, a não ser que se encontre primeiro, nas sombras de sua alma, no amargor de suas dores, até curar cada ferida, e plantar uma nova história, com outros tons e outras cores.
Sabe, não é preciso ser assim, o lampejo pode se eternizar e ser concreto, mais palpável, mais certo, não precisa deixá-lo ir tão facilmente, a fagulha de nossas almas está lá, o tempo todo, acesa, esperando, esperando, esperando, espera o chamado do Pai ou a ação da consciência, ambos serão libertadores, mas veio para ter-lhe para si, quão triste deve ser voltar de mãos vazias? E quão triste deve ser se perder em suas próprias ruínas? Ficar vazia, sem casa, sem saída, sem um caminho, sem vida, quão triste é esta sina, pobre alma perdida, não se encontra, não se ganha, apenas se deixa pelas correntezas, nas quebras das ondas, afogando as mágoas até que elas lhe afoguem, esquecendo dos ardores até que eles se apresentem, esquecendo de si mesma, até que não haverá forma de fugir, e terá que enfrentar, pois os lampejos foram tão fugazes que não conseguiram te iluminar.
Por Luiza
Tema sugerido por Régis