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O conto da caverna

Sombras tão reais quanto carne, neste vai e vem de delírios e sonhos, eu quase pude tocar o impossível, mas quando tentei caí como um pobre passarinho. Ninguém alcança o irreal, enxergando as partes, entretanto se esquecendo do todo, e os poucos que coleto me parece certo, mas tão vazios quanto os fatos que ainda não tenho, uma caixinha fechada, um laço desamarrado, uma música calada, um canto desafinado. Vivia no conto da caverna, onde o pranto era comum, o solo sempre seco, a luz não encontrava os olhos, e ainda não me via como um sujeito, um peito amordaçado, uma faca sem gume, para nada sirvo de olhos fechados, existo para a existência, mas como faz quando na incompetência? Os dias já se perderam nos riscos apagados, os demônios que rodeiam o lado externo sempre contornam as paredes, o medo me toma como um vinho doce, saboreia-me no chão coberto pelas cinzas, impotente, tão impotente.

Muito se ouve falar do que se passa do lado de lá, prisão, fim dos dias, guerras, incapazes de sorrir, mas ao parar para refletir quão diferente seria daqui de dentro? Quão temoroso são os corações que se perdem em suas próprias realidades, temem o que já carregam, e vivem não querendo o fardo que já guardam, as sombras só existem porque há luz, e se a sombra que lhe persegue se parece vasta, é porque longe está do sol da manhã. Meias histórias, fábulas de fatos isolados, nada pode se ter pela metade, nada se parece com a imaginação das paredes, a caverna abraça a escuridão e distancia a alva, levantar-me do chão é buscar minha alma, estou em busca de mim, nos contos reais da vida, triste se parece o fim, mas tudo o que parece pode se ressignificar com sabedoria, nos braços dos céus, nos laços eternos, longe da caixa, depois do casulo, uma história em linha reta, sem pausas, sem tons confusos, apenas a verdade e eu, espelhando o caminho puro.

Por Luiza Campos