O fardo de culpar-se pode ser muito mais pesado do que as lágrimas que não cessam, a dor de senti-la, a culpa, me refiro, de não entende-la, porém tê-la consigo, pela manhã, ao decorrer dos dias, ao deitar-se na cama enquanto as estrelas lhe observam, ela sufoca, amarga, você é o alvo, ela, o tiro, um espinho, uma lembrança viva, presente. Ampulheta não perdoa, não cala, não desata, um nó que um dia vai ruir, e a culpa, que tanto pesa, será a gravidade indesejada em um abismo sem fim, uma muralha para alcançar a liberdade, a corrente para os cativos, e seu tilintar é a lembrança que amordaça, atordoa os doentes.
Fogem tanto de si mesmos, e no fim a pena que terá será conviver com suas próprias companhias, a sós, com a solidão, e a monotonia, a tristeza e a ruína, por se perderem nas loucuras, em falas amargas, e se guiarem pela ventania, tão confusa e tão perdida, pobre alma, sem vida. Como livrar-se desse mal que tanto persegue? Deixar as amarras e ser quem és? A culpa é um sentimento indecifrável, indomável, como livrar-se de algo que já fez? Não há como mudar o passado, mas terá de paga-lo, e dobrar o preço, porque dantes não havia pecado, como fez Paulo, não havia mais lugar para seus ensejos, seu caminho desintegrou-se de suas mãos, deixou seu destino para os céus, por tomar tantas vidas que também doaram seus corações. Este é o peso da culpa, uma lembrança que sempre corroerá, a pergunta que fica é, como posso mudar?
Por Luiza Campos