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Ter o verbo para ser

Preciso ser uma página em branco, outro conto para declamar, os rabiscos serão arte nas mãos do anjo, uma nova história para contar, enquanto houver rastros vazios, os frutos serão vazios, não há nenhum segredo na lei do plantio, preciso parar de pensar no adeus e começar a enxergar o que há depois do rio. Preciso atravessar esse mar, escorrendo carmesim em seu chamar, entretanto, do outro lado, há muito mais para caminhar, depois do sangue é necessário abrir as portas, entrar na nova terra e abraçar um novo amanhecer, longe da angústia que atormenta, dos dias cinzas e das tempestades, a calmaria está naquele que nos vivifica, fortifica e traz liberdade. Não há dúvidas quando a luz acompanha os dias, não há incertezas quando a verdade se mostra ser o que é, para tal é preciso deixar-se ver, e não esconder-se, pois muito quer e nada faz, e sem verbo nada alcança. Deixarei de temer o abismo, e o abraçarei com a determinação, pois até mesmo o precipício é necessário para a purificação, deixar o que lhe prende e se lançar para o desconhecido, descobrindo as asas que por muito tempo estiveram escondidas, com os olhos valentes e a cabeça erguida, cortando o vento e sentindo a brisa, a liberdade ganha o sorriso e se enlaça devagar, não há sentimento mais puro do que se encontrar. Estou em busca de mim, da minha completude, sou espelho sem reflexo, lutando pela virtude, encontrar a tez que me falta, que preenche e transborda, nada de passageiro, mas sim, o ser que permanece para sempre, sendo o herdeiro, de minhas terras e de minha mente, por isso a vida que me habita, entrego-me a ti, como uma tela em branco, uma poesia que ainda irá porvir.

Por Luiza Campos