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Cessou

Não ouço mais o assoviar do vento, as ondas se calaram, os pássaros emudeceram, os faróis se fecharam, ficaram vermelhos, as ombreiras da porta, não era sangue do cordeiro, mas era o fim, o céu virando suas costas, também pudera quanto tempo ficou estendida sua mão? Quem a segurou? O mundo na contramão, por isso o tempo fechou, carregou-se as nuvens e o céu se acinzentou, as almas viraram curtumes e o amor se acidentou. Cessou o tempo, cessou o pó, cessou o vento e o nó, não se pode esperar cessar, senão a dor e o medo, não se pode cessar a cor, não julgar que ainda é cedo, porque vem o tempo e derruba a esperança, cessa-se o enredo e finda a eterna criança, sobrando apenas lembranças de um tempo que não volta mais, cessa a temperança e o ancorar no teu cais, mas vem o caos e os cacos, os maus e os fracos num mesmo buraco, mas não juntos, solitários num vazio escasso, que não cessa que não tem pressa, eterno e amargo.

Mas as janelas ainda se abrem, então se apresenta a possibilidade nas asas de um pássaro alegre, ainda não se cessaram os ouvidos, nem a voz do céu, ainda se ouvem as águas dos rios límpidos e se veem as paisagens que se desenha o pincel, ainda há chance, há expectativa, ainda há tempo para revanche de mudar a direção da partida, ainda há partilha a divisão dos bens do Senhor, ainda não cessou a guerrilha até que vença o amor. Que cesse a dor e a falta de compreensão, que brote a semente do Autor dentro do coração, para que renasça a vida e não se encontre mais o tempo de fazer doer a ferida que cessará com o tempo, e assim não ter mais o tempo que cessa por fazer parte da eternidade, que a alma pela vida se apresse pela busca da liberdade!

Por Patrícia Campos