Aos poucos, enquanto ar me faltava e meus pulmões já ardiam, a sanidade foi se despedindo, um adeus lento, mas esperado, as águas pesadas foram engolindo-me e a escuridão abraçando-me, abrasando-me pela perda, em uma queima lenta de desespero. Mesmo que dignidade ainda se afeiçoa-se de mim, não me contive quieta, o medo devorou meus olhos, e quanto mais me debatia contra o que me envolvia, mais me via submersa em angústias vazias. Foram muitas promessas para águas escuras, muitas falas incertas para discursos grandiosos, entretanto, mesmo assim, vi-me pulando do veleiro, rumo ao desconhecido, a escolhas impensadas, e consequências piores ainda. O problema era que mesmo oxigênio estando por toda parte, não faria parte de mim, pois inviável tornou-se respira-lo, ficou pesado, molhado e salgado.
Fui tola demais ao acreditar no impossível, mais tola ainda foi ter tudo ao meu alcance e desistir pela covardia, pulei para a miséria, mas não lancei-me pela escolha certa, um destino amargo, porém escrito a dedo, embriaguei-me com este mar, que prometeu o mundo e me preencheu de ilusão, ébria pelos juramentos, e esqueci-me que quem ofereceu o inalcançável para o passado, fora o engano. Doce mar de ilusão, o tempo se encarrega de o desmascara-lo, deixando apenas a dor da confusão, uma vida inteira de mentira, em cima de um palco, apresentando-me para ninguém, além de meus próprios desejos. Espero que para você, que está na beira deste barco, sinta a vida na imensidão azul que lhe cobre a cabeça, e que ao invés de desejar o infinito que lhe está aos pés, adentre o mar que está dentro, longe de farsas ou mentiras, mas ao lado da vida, pois para mim, já é tarde, já estou sentindo meus olhos anuviarem, e não posso culpar ninguém, além de minhas próprias decisões.
Por Luiza Campos
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