No externo esboça um sorriso largo, vestido longo, pés descalços como quem não está nem aí, fingindo tranquilidade, querendo enganar a si mesma, diz gostar do que vê, mas o que vê? Não vê! O que vê não pode ser, porque é efêmero, tem prazo de validade, o cuidado é com o pó o qual é carregado pelo vento e a alma fica vazia, bulimia sentida repercutida na vida. Todo dia dorme com a alma roncando de fome, a fome da verdade, porque somente esta sacia, ao contrário do engano, que consome, e aos poucos nos consome. É preciso abaixar muito a cabeça para que quem sabe possa encontrar-se com a humildade e ela te veja em sinceridade e te dê as mãos. O ego nos coloca em um lugar muito ínfimo, obscuro, um alto muro, onde não conseguimos enxergar nada além do nosso individualismo. Queremos que tenham empatia por nós, mas por quem temos empatia? Queremos que outros sintam as nossas dores, mas sentimos as dores dos outros? É muito fácil falar de si mesmo quando não se enxerga de verdade, e aí então nos colocamos em um lugar onde nunca estivemos, mas onde gostaríamos de estar. As lisonjas de nós por nós não são verdadeiras, mas a verdade traz muita dor quando se é dita por outrem, é como espada que fere, mas quando sentida de fato traz o mar aos olhos e remédio ao coração.

É doloroso nos ver neste espelho que se chama consciência, mais difícil ainda é espelhar a própria consciência, porque é preciso se ver de fora para dentro, como que olhando de fora de nós, e não sermos hipócritas achando que somos o que não somos, porque se isto fizermos não estamos sendo verdadeiros quanto ao que estamos espelhando. Não há como enganar o espelho, só podemos disfarçar o que nele pode ser visto se caso colocarmos o véu da mentira para tentarmos criar de nós uma boa versão descrita por nós mesmos, a qual somente nós vemos, porque o outro não nos vê tão perfeito o quanto achamos que somos, de boca falamos das nossas imperfeições, mas se alguém fala sobre elas a nós não queremos acreditar no que estamos ouvindo, porque gostamos de nos enganar pelo ego, mas ele é falso e não nos fala a verdade.

Por Patrícia Campos