Tão perto do infinito, mas tão longe de si, separados por um teto de vidro, toca o espelho gélido e nunca se alcança, delicada, boneca de porcelana, não se entende, não se lança. Presa em cacos de vidro, e o solo se encontra faminto, um passo trapaceiro e o oceano engole pranto, abraça a dor e lhe deixa postergar, o amanhã incerto colorem os olhos dos que temem, “deixarei a guerra para amanhã”, pensou, e quando percebeu, estava deitada em corpos vazios, olhando para as estrelas. O mar tomou vinho, embriagado de dores e pecados, neste vai e vem de laços imaginários. Os céus já tentaram tocar as celas, mas as tentativas fracassaram, assemelhava-se a um gelo fino, as palavras soavam quietas, mas arrastavam ondas de vãos rachados, o peso da verdade sufocaria quem quer que estivesse lá embaixo, por mais que a liberdade corresse em seus pensamentos, nunca tocaria sua face.
Esqueceu que era e tornou-se o casulo, quando chegou a hora não havia algo, mas apenas havia, tornou-se o vazio e não o espaço, o tempo preencheu o que restava, mas chegará uma hora que nem mesmo ele caberá neste conto escasso. O teto que era sua segurança, na verdade, lhe afogava em mentiras rasas, o que conhecia de si era um pouco mais que nada, e suas lembranças de felicidade eram quando via as estrelas pousarem nos olhos, mas quando percebiam que eram muito para tão pouco voavam para longe. Um teto traça limites, o vidro lhe torna frágil, e assim tornou-se pequenina e fraca, ouvindo tão perto as histórias das nuvens, mas nunca podendo sair de suas fábulas, pobre coitada, protegida por um teto de vidro que não protege nada.
Por Luiza Campos
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